quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um coração fraco


Assisti uma peça de teatro escrita pelo brasileiro Domingos Oliveira, Um coração fraco, baseada no texto do autor russo Fiodor Dostoiévski, A felicidade. Nela o autor conta a estória de Vassia, um jovem muito humilde, que mora com seu amigo e encontra o amor de sua vida: uma bela jovem de quem fica noivo.
Tudo ocorre bem no relacionamento e planos de futuro, a jovem também está apaixonada e sua mãe viúva apóia o casamento.
No decorrer da peça, muitas vezes o protagonista se pergunta se é merecedor de tal felicidade e pensa constantemente na jovem.Porém ele tinha um longo trabalho para entregar antes do casamento, mas não consegue executar a tarefa , no final sente-se muito culpado por isso e adoece a ponto de enlouquecer e não se casa.
O estranhamento a primeira vista na peça é que tudo isso ocorre exatamente na fase mais produtiva de sua vida, na fase em que deveria estar mais contente e realizado, e no entanto, o rapaz fracassa.
Aparentemente Vassia não tinha porque se sentir tão culpado e fracassar, mas existem comportamentos inexplicáveis à primeira vista.
Algumas pessoas não conseguem lidar com a própria felicidade, esta se torna insuportável de ser vivida e por fim acabam sabotando-a.
Nessa peça isso acontece de modo mais eloqüente e intenso, mas pode acontecer nas formas mais sutis em nossas vidas.
Apesar de parece contraditório e impossível inconscientemente pode ter um sentido.
Sabotamos nossa felicidade por medo de enfrentar as angústias e lutas que elas podem trazer, escolhendo um caminho sem riscos e previsível.
Como na peça, Vassia ao ver-se diante de tanta felicidade, se assusta e não consegue consumar seu casamento e ir adiante com uma vida feliz, isso o enlouquece. Não acha que conseguiria enfrentar e lutar por sua felicidade, por acreditar não ter condições de ser um homem que poderia "dar conta" de ter uma vida perfeita.
A fantasia de não falhar e da perfeição também pode ser paralisante e diante do medo de fracassar, podemos nos retirar da luta.
Com a idealização de um caminho sem tropeços, faz com que medo se sobreponha a qualquer luta.
Todo caminho é feito com tropeços e erros, mas alguns preferem desistir antes de tentar.Outra forma de sabotar a felicidade inconscientemente é pela culpa, ou seja, a pessoa pode acreditar que não merece usufruir a felicidade e a destrói antes que ela se realize.
A culpa muitas vezes vem de uma educação cristã, que acredita que não estamos na terra para termos prazer e felicidade, mas para sermos mártires, que após a morte terá direito ao paraíso.
Nos dois casos, a sabotagem é algo sério, causa de muitas neuroses e doenças psíquicas que impossibilitam os seres de usufruir de uma vida com qualidade.
Escolher o caminho da felicidade muitas vezes pode parecer um ato de egoísmo em nossa sociedade, mas algumas vezes é um ato de coragem e enfrentamento de muitos preconceitos e conceitos idealizados.

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